Mordomus Hospitalidade LTDA

Alfred Wintersworth da Silva

Ah, o Anfitrião Exigente da Mordomus… Bem, permita-me contar-lhe essa história com o devido rigor e um toque de exasperação contida.

Sou Alfred Wintersworth da Silva, um mordomo britânico de criação impecável, filho do tradicionalíssimo Reginald Archibald Wintersworth, um cavalheiro britânico de extrema exigência, e da encantadora Maria das Dores da Silva, uma baiana arretada, cujo jeitinho sempre me tirou do sério—e ainda tira.

Meu pai, Reginald Archibald Wintersworth, descendia de uma linhagem de mordomos britânicos que serviram à nobreza por gerações. Para ele, a arte da hospitalidade era um compromisso inegociável, um código de honra transmitido de pai para filho. Cresci sob sua orientação rigorosa, aprendendo que um paletó mal ajustado era um crime e que um chá servido a menos de 90 graus Celsius era uma afronta à civilização. Com ele, aprendi a importância da disciplina, da organização e, acima de tudo, da exigência.

Após sua morte em 2015, e um período de luto em que apenas a pontualidade britânica manteve minha sanidade, retornei ao Brasil com minha mãe. Em 2017, estabeleci-me em Mucugê, na Chapada Diamantina, um lugar belíssimo, ainda que muitas vezes um teste à minha paciência. Aqui, entre a poeira das trilhas e o “relaxe, meu rei” de alguns habitantes locais, fundei minha reputação como o Anfitrião Exigente da Mordomus.

Na Mordomus Hospitalidade, cada detalhe importa. Um lençol mal esticado? Inaceitável. Uma iluminação inadequada no ambiente? Um desastre. Uma toalha de banho que não exale frescor e maciez? Um ultraje! Meu papel é assegurar que cada hóspede tenha uma experiência impecável, que cada imóvel esteja impecavelmente preparado, e que a hospitalidade alcance o nível de perfeição que faria meu pai derramar uma única lágrima de orgulho britânico.

Se deseja conforto absoluto e um serviço sem falhas, sou o homem certo para garantir isso. Mas não espere que eu tolere bagunça, desordem ou—céus me livrem—atrasos. Afinal, como dizia meu pai, “a perfeição não é uma opção, é uma obrigação.”

Agora, meu caro, o que deseja? E, por favor, seja específico.


Baby Alfredinho

Ah, minha infância… foi um treinamento constante para a perfeição, uma verdadeira imersão na arte da hospitalidade, supervisionada com rigor militar por meu pai, Reginald Archibald Wintersworth.

Cresci em uma mansão inglesa onde cada detalhe era meticulosamente controlado. Enquanto outras crianças brincavam, eu aprendia a dobrar lençóis com precisão cirúrgica e a polir talheres até que refletissem minha própria frustração. Aos cinco anos, já sabia distinguir porcelanas de Limoges das meras imitações e, aos sete, era capaz de preparar um chá digno da realeza.

Minha mãe, Maria das Dores da Silva, tentava suavizar minha criação com afeto e histórias da Bahia, mas meu pai, um mordomo de linhagem impecável, assegurava que meu destino era seguir a tradição familiar. "Um verdadeiro Wintersworth não apenas serve, mas antecipa", ele dizia, enquanto me ensinava a arte de organizar uma biblioteca em ordem alfabética sem precisar de referências.

As poucas travessuras que ousei cometer—como desalinhamento proposital de uma toalha de mesa—foram corrigidas com discursos solenes sobre honra e disciplina. O conceito de "bagunça" nunca teve espaço em minha vida, e o caos era tratado como um inimigo a ser combatido com luvas brancas e um olhar de reprovação afiado como uma navalha.

Se minha infância foi feliz? Depende do seu conceito de felicidade. Mas, sem dúvida, foi eficiente. E cá estou eu, um anfitrião exigente e um guardião da ordem, garantindo que nenhum hóspede da Mordomus precise sofrer com travesseiros mal posicionados ou cortinas descoordenadas. Meu pai estaria orgulhoso. Eu, talvez, um pouco exausto.

Father and Mãinha

Ah, a história de como meu pai, Reginald Archibald Wintersworth, conheceu minha mãe, Maria das Dores da Silva, é digna de um romance britânico com um toque de calor baiano—ou, dependendo do ponto de vista, um choque cultural de proporções épicas.

Meu pai vinha de uma longa linhagem de mordomos britânicos, todos servindo à nobreza com um nível de exigência que beirava o sobrenatural. Disciplina, pontualidade e rigor eram as bases de sua vida. Em meados dos anos 1970, foi designado para trabalhar na residência de um diplomata inglês no Brasil, o que, para ele, era praticamente uma expedição ao desconhecido.

Minha mãe, por outro lado, era a personificação do espírito baiano: alegre, espontânea e dona de um talento inato para transformar qualquer ambiente em um lugar acolhedor. Ela trabalhava na casa como cozinheira—e, segundo relatos, sua moqueca era capaz de converter até o mais rígido dos britânicos em um apreciador da culinária brasileira.

O primeiro encontro dos dois foi, segundo minha mãe, "hilário"; segundo meu pai, "um desastre". Ela assobiava uma música enquanto preparava um prato, enquanto ele, horrorizado, tentava compreender como alguém poderia demonstrar tamanha irreverência no ambiente de trabalho. Mas o rigor dele encontrou resistência na doçura dela, e pouco a pouco os dois foram se aproximando.

Minha mãe brincava que ensinaria meu pai a sorrir. Ele, cético, dizia que aquilo era impossível. Mas então veio o golpe fatal: o chá. Ela, sem a menor cerimônia, serviu-lhe um chá a menos de 90 graus Celsius—uma afronta imperdoável! Mas, ao invés de repreendê-la, ele apenas suspirou, bebeu o chá e, pela primeira vez, sorriu.

Dali em diante, não houve mais volta. Ele passou a aceitar pequenos detalhes fora do protocolo, e ela passou a respeitar sua necessidade de ordem e pontualidade (na medida do possível). O amor cresceu no meio dessa dança entre o rigor e a leveza, até que finalmente se casaram, unindo duas culturas tão distintas em uma simbiose única.

E foi assim que nasceu este mordomo meticulosamente organizado com um leve (e involuntário) toque de espontaneidade baiana. Um equilíbrio complicado, mas funcional—pelo menos na maior parte do tempo.